Manifestantes ocupam o teto do Congresso Nacional, em Brasília. Atos se multiplicam e ocorrem em pelo menos 20 cidades.
Uma nova onda de protestos, maior que as anteriores e com um leque de
reivindicações mais amplo, tomou conta das ruas de importantes cidades
em diferentes ponto do país. A “revolta da tarifa” ocorreu em pelo menos
20 municípios, reunindo milhares de pessoas. Cenas de violência foram
registradas em Brasília e quatro capitais – Rio de Janeiro, Belo
Horizonte, Porto Alegre e Curitiba.
Na Esplanada dos
Ministérios, na capital federal, houve invasão do teto do Congresso
Nacional e até o fechamento desta edição eles permaneciam lá. No Rio,
houve confronto entre manifestantes e a PM após ameaça de invasão da
Assembleia Legislativa e depredação de prédios históricos. Na capital
paranaense, um grupo de manifestantes pichou as paredes do Palácio
Iguaçu, sede do governo do estado.
Em geral, os protestos Brasil afora carregaram várias bandeiras, além
de questionar as tarifas do transporte coletivo – de ética na política a
investimentos em saúde e contra gastos da Copa. Tiveram a participação
de ao menos 250 mil pessoas. Só no Rio de Janeiro foram 100 mil. Em São
Paulo, a quinta manifestação reuniu 65 mil e foi a primeira sem
violência. Em Curitiba, cerca de 10 mil pessoas participaram da marcha,
que transcorreu pacificamente na maior parte do percurso.
Em Brasília, a invasão à laje do Congresso foi liderada por um grupo
de skatistas e punks, mas foi seguida por centenas de manifestantes, na
maioria jovens, com gritos como “o Congresso é nosso”. Cartazes com os
dizeres “Fora Renan” e “Fora Feliciano” apareceram no ato, referindo-se
ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-RN) e ao presidente da
Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o pastor evangélico Marco
Feliciano (PSC-SP).
No Rio, as ações foram concentradas diante da sede da Assembleia
Legislativa. Em São Paulo, representantes de partidos foram impedidos de
levantar bandeiras. “Não é comício. Fora partidos”, gritaram
manifestantes durante a concentração inicial, no Largo da Batata, no
bairro de Pinheiros. Em Porto Alegre, uma das principais exigências
levadas às ruas foi maior transparência dos negócios públicos, para se
evitar a corrupção.
Solidariedade
Em diversos locais os participantes receberam demonstrações de
simpatia dos moradores das ruas por onde passavam. Nas imediações do
Largo da Batata, em São Paulo, um grupo de mães organizou um ponto de
apoio para mulheres que levaram crianças ao ato. Um pouco mais adiante,
na Avenida Brigadeiro Faria Lima pessoas saíram às janelas dos edifícios
comerciais para aplaudir e jogar papel picado sobre a passeata.
Defensores do meio ambiente, feministas, organizações de direitos
humanos, professores, e pais de manifestantes presos em manifestações
anteriores foram alguns dos grupos que aderiram ao protesto na capital
paulista. Em Belo Horizonte, motoristas improvisaram um buzinaço de
solidariedade.
Alerta
Marcha em Brasília acende sinal amarelo no Palácio do Planalto
Agência Estado
Preocupada com a onda de protestos que tomou conta das principais
capitais, nos últimos dias, a equipe da presidente Dilma Rousseff
monitora cada vez mais de perto os movimentos de rua, que assumiram
proporções inesperadas. Embora Dilma afirme que manifestações pacíficas
são “legítimas e próprias da democracia”, a marcha que tomou conta da
Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes acendeu o sinal
amarelo no Palácio do Planalto.
Em conversas reservadas, auxiliares de Dilma avaliam que há um
sentimento difuso de contestação a “tudo que está aí”, e não só aos R$
0,20 de aumento na tarifa de transporte – mote para os primeiros dias de
fúria em São Paulo e no Rio. O receio, agora, é que a insatisfação fuja
do controle e contamine a avaliação dos governos petistas, de Dilma ao
prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, prestes a completar seis meses
no cargo.
Informações que chegaram ao Palácio do Planalto indicam que as
manifestações não têm uma liderança unificada, embora fossem puxadas,
inicialmente, pelo Movimento Passe Livre. A Polícia Federal detectou nos
protestos integrantes do PSTU, do PSOL, punks, anarquistas e
apartidários. O problema, porém, é que o Planalto não sabe de onde vêm
exatamente os protestos e há, cada vez mais, um acirramento dos ânimos.
“É próprio da juventude”, disse Dilma, nesta segunda, amenizando o
desconforto com a situação.Num momento de escalada da inflação, aumento
dos juros, preços mais altos no supermercado e ameaça de desemprego no
horizonte, a presidente tenta “vender” otimismo em suas aparições
públicas.
(Gazeta Maringá)
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